A interpretação de nosso período colonial foi e continua sendo motivo de profundos debates. A preocupação em entender o período não ficou, contudo, restrita aos historiadores, mas se estendeu a economistas, sociólogos, antropólogos, estudiosos de nossa literatura e, enfim, a todos que procuravam pensar os rumos do país. Afinal entender nosso passado colonial sempre foi (ou é) um pressuposto para todos que desejavam (ou desejam) compreender a realidade de nosso presente e pensar as perspectivas de nosso futuro.
O estudo do período conta com uma larga tradição, iniciada no século XIX, com Varnhagen e vários estudiosos agrupados no IHGB ou nos institutos históricos locais, cujo trabalho seria desenvolvido pela geração da virada para o século XX, com destaque para Capistrano de Abreu. Todos eles, portanto, responsáveis pelo reconhecimento das principais fontes e pelas primeiras tentativas de narrar os principais eventos da época colonial.
Na sequência, a Colônia também atraiu a atenção de grandes nomes para a renovação dos estudos históricos da primeira metade do século XX (Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior), que produziriam as nossas grandes obras clássicas.
Em meados do século XX, além dos historiadores, outros intelectuais procuraram pensar o período colonial, preocupados com a questão do subdesenvolvimento econômico e a superação dos entraves que impediam o desenvolvimento nacional, destacando-se em especial a contribuição de Celso Furtado e os debates dentro da esquerda brasileira, debates esses que seriam complementados e desenvolvidos pela produção universitária a partir dos anos 60.
Nos anos 70, dentro do campo historiográfico propriamente dito, o trabalho de Fernando Novais, Portugal e o Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial, sintetizou uma interpretação da colônia que passou a ser o centro do debate, especialmente com a contribuição de Amaral Lapa, Jacob Gorender e Ciro Flamarion.
Este debate se enriqueceria, nos anos 80 e 90, com as contribuições de Evaldo Cabral de Mello, José Jobson Arruda, Stuart Schwartz, Vera Ferlini, Laura de Mello e Souza, Luiz Felipe de Alencastro, João Fragoso, Manolo Florentino, Maria Fernanda Bicalho entre outros. E que, em seguida, passaria a contar também com a participação ativa de colegas portugueses como Joaquim Romero de Magalhães, Antonio Manuel Hespanha, Nuno Monteiro e Diogo Ramada Curto.
É, a fim de resgatar a tradição do debate historiográfico livre e franco e por entender ser a crítica de ideias o que permite o desenvolvimento de nossa interpretação sobre o passado, que ora lançamos este site. Assim, o grupo de pesquisa “Antigo Sistema Colonial: estrutura e dinâmica”, como o seu nome deixa claro, reivindica uma posição em tal debate.
Entendemos que a ideia de “Antigo Sistema Colonial” é a que melhor permite compreender nosso período colonial, pois, nas palavras de Vera Ferlini, “na perspectiva do Antigo Sistema Colonial, a relação dominante é a que se estabelece, na diacronia, entre a metrópole e a colônia, tendo por eixo o processo produtivo, base da exploração e da acumulação. A interação dialética entre essa condição colonial e as formações sociais das colônias permite a compreensão do processo global e das estruturas particulares”.
Entendemos também que ter uma posição não significa se fechar nela, mas, pelo contrário, pretendemos seguir adiante, sempre questionando e criticando nossas próprias posições, procurando abrir novas perspectivas de pesquisa e reflexão. Neste sentido, são fundamentais novos estudos empíricos e o debate com os críticos das mais variadas posições para avançarmos coletivamente no entendimento de nosso passado colonial e no de suas implicações para o presente e futuro de nosso país.